A NRF Retail’s Big Show é a maior feira mundial voltada ao mercado varejista, e traz anualmente tendências, ideias e práticas para o mercado. Neste ano, a retomada do varejo em um cenário de pós-pandemia foi destaque.
A feira, que ocorreu entre os dias 15 e 17 de janeiro, contou com mais de 175 palestras e 350 speakers. Nova Iorque é a cidade-sede desse grande encontro que é uma referência mundial. E não poderia ser diferente. A cidade é a capital do varejo e consumo do mundo e o principal eixo econômico dos EUA.
Ao todo, a feira recebeu pessoas de mais de 90 países, teve mais de 350 palestrantes e 800 expositores das principais marcas mundiais. Em suma, foram debatidos temas como sustentabilidade, inovações digitais, experiência no varejo, metaverso e outros assuntos inovadores e essenciais. Além da área destinada para conteúdo, a feira teve um grande espaço reservado para exposição de tecnologias e outras novidades no setor de foodservice.
Os meus olhares para a Feira
Eu, João Espíndola, Gerente Manager da Todo, escrevo este texto, pois tive a honra de estar nesta edição da NRF, e a partir dela trazer insights importantes. Algo que me chamou muita atenção foi a fala de James Cash Jr, membro do conselho do Walmart, sobre a sensibilidade às necessidades dos clientes e demais stakeholders, algo que deve ser sempre inerente ao varejo. Dentro do conceito de “novo normal”, James reforçou que apesar da constante mudança de experiência, os principais critérios avaliados pelos consumidores continuam os mesmos, e é preciso ter força para não deixar que problemas de curto prazo sejam grandes dificuldades.
A fala de James traz esse viés humano para varejistas que enfrentaram tantas barreias com o isolamento social, e que hoje estão se recuperando justamente porque não desistiram e pensaram à frente, se adaptando, encontrando soluções e, sobretudo, inovando.
Destaco também que a loja física foi muito citada durante as palestras, mas de um modo muito mais integrado com o ambiente ON-LINE. O contexto traz que quando um cliente vai a uma loja física, ele espera que essa loja o conheça. E é por isso que a análise de dados deve ser uma constante no varejo.
A utilização de Customer Data é essencial também para armazenar, organizar e enriquecer todos os dados que uma empresa possui de seus clientes, sejam de origem on ou off-line. O off-line, contrariando a muitas expectativas, continua como forte pilar, entretanto, não existe e não sobrevive mais sozinho. É necessária profunda integração entre os dois canais. O processo de venda não é mais por canal. É por cliente.
Um destaque importante da NRF foi o comportamento do consumidor em relação ao mercado de cartões-presente ao redor do mundo, com o uso próprio de cartões-presente dentro de aplicativos, e não apenas para presentear alguém. Foi enfatizada também a utilização de Gift Cards dentro da área de benefícios de milhares de empresas, expandido a atuação e o próprio nicho do produto, que não é mais apenas um presente.
A temática do metaverso neste ano foi menos debatida, mesmo assim a realidade aumentada fomenta e aumenta a conversão de leads. Além disso, ainda no conceito de construção de lojas, é necessário, cada vez mais, repensar os processos, modelos, culturas e indicadores de performance, visto que o maior ativo de uma loja é a sua base de clientes, e são eles que precisam estar no centro de todas as mudanças e melhorias.
Em resumo, é necessária uma “memória” por parte do varejista em relação à pandemia. O mundo mudou, a rotina mudou, empresas fecharam e outras abriram. O varejo não pode mais ser “pego de surpresa”. Por isso, é preciso estar em constante planejamento, mapear crises e ter um plano para gerenciá-las.
É necessário manter viva a preocupação com questões climáticas mundiais, posicionar-se diante delas, e, sobretudo, compreender que o mundo está inserido na era do “fim da abundância”, sendo a assertividade um atributo necessário às organizações. É preciso ter ideais muito bem definidos, mas execuções passíveis de adaptação.
Um panorama geral sobre a NRF
Este é um momento desafiador paro varejo, ainda de retração econômica, aumento de taxas de juros, inflação, instabilidade política e afins. O desafio é: como impactar o varejo de forma positiva?
A Inteligência Artificial, o estudo de dados, as experiências de realidade virtual, os hologramas físicos ou virtuais: tudo isso faz e fará cada vez mais parte desse futuro tão presente.
A consultoria Grand View Research apontou que a projeção do mercado de Inteligência Artificial é alcançar US$ 1 trilhão em 2030. Contextualizando com o cenário de metaverso, começam a surgir cada vez mais evoluções. Um dos casos apresentados na NRF traz a marca Nars, empresa francesa de cosméticos, que criou um evento no jogo Roblox entre julho e setembro de 2022. Nesse ambiente, os usuários podiam coletar recompensas, conquistar tarefas, criar looks e maquiagens e ainda era possível comprar skins para os avatares. É a criatividade e a revolução do digital transcendendo barreiras e sendo o retrato de uma geração totalmente imersa na gamificação. Marcas como Forever 21, Nike, Walmart e Banco do Brasil também lançaram espaços na plataforma de jogo Roblox para que os fãs criem e compartilhem experiências.
A marca O Boticário lançou um universo interativo dentro do Fortnite para promover a marca Egeo para a Geração Z. As Lojas Renner e a TIM também seguem com espaços virtuais na tentativa de integrar o físico e o digital. Uma pesquisa feita pela Alpha 3D, nos Estados Unidos, traz que 61% dos consumidores preferem comprar de marcas que oferecem essas realidades virtuais.
O CEO da Whole Foods, Jason Buechel, destacou em sua fala a importância da equipe para o varejista que deseja continuar e se destacar no mercado nos próximos anos. Segundo ele, produtos incríveis e lojas modernas não são suficientes se os membros internos não trabalham satisfeitos.
Assim como diversos outros palestrantes, Jason destacou também a sustentabilidade. A Whole Foods está em constante investimento na agricultura regenerativa, na redução do desperdício de alimentos e no fornecimento responsável para construir um futuro melhor no setor de alimentos e para além dele. Em sua fala, ele traz essa reflexão aos supermercadistas, que ainda têm o desperdício como característica de suas operações.
Outro palestrante que também destacou a sustentabilidade foi o ator, produtor, e escritor, Kal Penn. Ele pontou que a sustentabilidade deve ser vista como necessidade, atributo essencial e não mais como uma escolha. Ele enfatiza que não deve mais ser uma opção do consumidor ter que tomar a decisão entre o que é mais inovador, barato, eficiente ou sustentável. “Muitas coisas caem na resposta do preço [as pessoas têm a visão de que produto sustentável é mais caro]. Os produtos têm que ser inovadores e sustentáveis. Se você consegue fazer um produto inovador, já deve trabalhar para torná-lo sustentável”, frisou Kal.
Também durante a NRF, a Euromonitor divulgou o resultado de um estudo que revela que “45% dos profissionais do varejo afirmaram que investir em iniciativas de sustentabilidade é uma prioridade estratégica para sua empresa nos próximos cinco anos.”
Além disso, os colaboradores das empresas também precisam fazer parte dessa estratégia ambiental. Eles devem ser orientados a fazerem boas escolhas de sustentabilidade. De acordo com a empresa de tecnologia Cisco, existem 27,1 bilhões de dispositivos conectados à internet – ou seja, mais de três dispositivos para cada pessoa no planeta. Nesse contexto, muitos colaboradores carregam mais de dois telefones celulares corporativos, embora não precisem. A tecnologia atual já permite que eles segmentem dois ambientes diferentes em um único dispositivo. Tudo isso é sustentabilidade.
A NRF 2023 trouxe também o Innovation Lab. Trata-se de um lugar que contou com vários expositores apresentando as aplicações mais recentes em inteligência artificial, realidade aumentada, aprendizado de máquina, reconhecimento facial, robótica etc. Foi uma exposição imersiva e que acompanha todos os elementos de transformação gradual do varejo.
Um dos pontos de destaque foram as ferramentas que mostram pontos de vendas nos quais o consumidor não precisa passar os produtos pelo caixa, pois uma câmera com visão computacional já identifica e reconhece o produto comprado e todo o processo de compra é feito por imagem. Um insight e tanto para o futuro.
As macrotendências
Andrea Bell, vice-presidente de insights do consumidor da WGSN, falou na NRF sobre fatores que deverão influenciar a sociedade, o consumo e os negócios até 2025. Segundo ela, o foco de todas as relações de consumo precisa sair do indivíduo e ser no coletivo, tendo em vista as tantas crises que estão permeando o mundo. Assim como foi reforçado por outros palestrantes, as empresas precisam de times engajados para mapear e enfrentar cenários de risco.
A executiva da WGSN fala também sobre a transformação do universo digital e das mídias sociais, que antes existam para a conexão de amigos, conhecidos e familiares, e hoje é mais sobre entretenimento. “Nos próximos anos, crescerá o olhar para comunidades menores e nichos”, pontou Andrea.
Por isso, é necessário expandir o relacionamento com essas comunidades, a exemplo da Starbucks, que lançou 27 playlists de colaboradores e influenciadores no Spotify. Sobre sustentabilidade, ela destacou que alguns governos já adotam ações mandatórias para empresas, inclusive varejistas, que se não estiverem dentro de normas sustentáveis, não poderão vender seus produtos nesses países.
O omnichannel, assunto que já é abordado na NRF há muitos anos, teve na edição deste ano outra roupagem. Foram apresentados os cases de negócios como as varejistas Lowe’s, Target e Nordstrom.
O omnichannel é uma necessidade, tanto no B2C quanto no B2B. Marvin Elison, o CEO da Lowe’s, uma das maiores redes de materiais de construção dos Estados Unidos, pontou a preocupação com o cliente que acessa os dois ambientes de negócios, e o que o atendimento deve ser de excelência, sem ruídos e estratégico nos dois ambientes, inclusive sincronizando serviços.
Muitos insights, novidades e reflexões fizeram parte da NRF 2023, um evento inesquecível para todo o mercado de tecnologia e varejo. Conceitos que já estão em alta foram reforçados, mas novos debates foram muito importantes para o entendimento de que a jornada do cliente é algo que deve estar em constante estudo, não existindo uma receita de bolo para ela.
O ESG, a transformação digital, o metaverso e tantos outros assuntos já não são mais novidades, mas muitos varejistas ainda estão no processo de adaptação do modelo de suas gestões, para que todos os envolvidos no processo, desde equipes internas aos consumidores finais, colham bons frutos de um mundo tão tecnológico, criativo, imersivo e sem fronteiras.