O Todo Talks Retail Trends, evento realizado pela Todo com o objetivo de reunir varejistas
brasileiros para falar sobre as tendências e desafios do mercado, trouxe no último dia 31 de julho a palestra do Rodrigo Murta, CEO & Founder da Looqbox e autor do livro “Conversando com robôs – a arte de GPTear”.
Tecnologias e avanços da I.A.: a visão de Rodrigo Murta
A inteligência artificial (IA) está presente em diversos contextos atuais e no varejo não é exceção. Rodrigo Murta, um dos pioneiros no uso de IA para varejo e fundador da Looqbox, compartilhou em sua palestra as suas visões sobre o impacto e as transformações que a tecnologia está trazendo para o setor.
Murta, que já estava imerso na IA muito antes dela se tornar uma tendência popular, é um físico de formação que sempre teve uma curiosidade aguçada sobre o funcionamento do cérebro humano. Sua trajetória de empreendedorismo não fez com que sua paixão pela ciência desaparecesse.
Em 2013, ao enfrentar desafios relacionados à inteligência de compra e usabilidade de sistemas de BI (Business Intelligence) em uma empresa varejista, Murta desenvolveu um sistema de linguagem natural. Este sistema eventualmente evoluiu para a Looqbox, uma empresa dedicada a soluções de IA para o varejo.
A chegada do GPT (Generative Pre-trained Transformer), segundo Murta, é um grande divisor de águas da I.A. Ele compara esse momento à sensação de Carl Sagan ao ver as primeiras imagens de Marte. Para Murta, o GPT representa uma nova era no processamento de linguagem natural, algo que ele e sua equipe estão trabalhando há anos. “Eu me senti o Carl Sagan da linguagem natural”, disse Murta, refletindo sobre o impacto do GPT em tantas esferas.
O processamento de linguagem natural (PLN) é uma área antiga da inteligência artificial, mas os avanços recentes têm sido transformadores. Murta explica que, enquanto a IA pode envolver várias áreas como visão computacional e algoritmos de otimização, o PLN foca na capacidade de entender e gerar linguagem humana. “A tecnologia por trás do GPT, por exemplo, é uma complexa máquina de estatísticas que quebra frases em tokens (unidades de significado) e usa esses tokens para prever e gerar o próximo fragmento de texto”, reforçou Murta.
Os modelos como o GPT-3, com seus 175 bilhões de parâmetros, são capazes de dar respostas e interações que simulam uma conversa humana. Murta destaca que, embora as respostas possam parecer animadas, na realidade, são o resultado de complexas operações matemáticas e estatísticas.
O impacto da I.A. no varejo
O futuro promete uma comunicação mais natural e intuitiva, substituindo as interfaces tradicionais e complexas por interações conversacionais mais fluidas. Murta reforça que o futuro próximo trará um cenário onde aplicativos, desde bancos até serviços de atendimento ao cliente, serão refatorados para usar a linguagem natural, tornando as interações muito mais simples e eficazes.
No varejo, isso significa uma mudança significativa. Imagine um aplicativo de banco onde você possa simplesmente dizer: “Destrave meu cartão para viagem internacional”, e receber uma resposta personalizada e imediata. A I.A. permitirá uma comunicação mais direta e eficiente, poupando o usuário de navegar por menus complicados que ainda existem hoje.
Segundo Murta, um aspecto interessante ao analisar o futuro da I.A. aplicada ao varejo está na possibilidade de criar “personas sintéticas” — clientes simulados que podem dar feedbacks e testar novas estratégias de marketing e vendas. Essa tecnologia ainda está em desenvolvimento, mas promete mudar – e muito – a maneira como as empresas entendem e atendem seus consumidores. É uma espécie de “cliente oculto” da I.A.
Apesar disso, Murta destaca a importância de entender as bases da IA antes de tentar implementá-la: “não adianta querer explorar algo sem saber o básico”, sugerindo que as empresas devem primeiro ser educadas sobre as diferentes áreas da IA e como elas se aplicam ao seu setor.
Por exemplo, imagine o processo de programar uma viagem. Com uma interface avançada, em vez de navegar por menus complicados, um usuário pode simplesmente dizer o que deseja. A tecnologia pode então apresentar opções, como passagens aéreas, de maneira eficiente. Murta compara isso a ter um assistente pessoal que compreende suas preferências e facilita a realização de tarefas complexas.
Ele também menciona que, em um cenário ideal, a tecnologia poderia até mesmo assumir tarefas como a compra de ingressos. A IA seria capaz de entender os gostos pessoais do usuário e realizar as compras com base em suas preferências, economizando tempo e esforço.
Murta sugere também que os usuários não devem se contentar com a primeira resposta obtida ao usar ferramentas como o GPT. Em vez disso, ele recomenda explorar mais a fundo, testando e refinando as perguntas para obter respostas mais precisas. Murta compara a função do Google a um “Google exibido”, que oferece um grande volume de informações sem necessariamente fornecer as respostas mais relevantes. Ele acredita que o GPT pode superar essa limitação, oferecendo respostas muito mais práticas e direcionadas.
Em sua fala, Murta incentiva também os interessados a testar a IA em suas áreas específicas, como marketing, finanças ou programação. Ele sugere que o primeiro passo é entender como a IA pode ser aplicada ao seu campo e como ela pode agregar valor. Tudo isso é o reflexo de uma visão coerente e pragmática sobre o impacto da IA no atendimento ao cliente e no varejo, destacando tanto as oportunidades quanto os desafios que acompanham essa tecnologia. Em uma analogia ao ditado popular: “o futuro à I.A. pertence”.
Casos reais
A Inteligência Artificial (IA) “chegou” para melhorar a forma como as empresas operam e como os consumidores fazem compras.
Estudos indicam que o mercado global de IA no varejo deve atingir US$ 15,3 bilhões até 2025, com uma taxa de crescimento anual composta (CAGR) de 36,6%. E entre os os principais casos de uso da IA no varejo, destaca-se a personalização da experiência do cliente por meio da análise de dados para oferecer recomendações de produtos ajustadas às preferências individuais.
A otimização da gestão de inventário e a análise preditiva para previsão de demanda são outros exemplos importantes, permitindo que os varejistas evitem falta ou excesso de estoque e ajustem suas ofertas com base em tendências e condições do mercado. A prova virtual e a gestão simplificada da cadeia de suprimentos também são inovações que melhoram a experiência do cliente e toda a operação.
A Amazon, por exemplo, utiliza um motor de recomendações baseado em algoritmos para sugerir produtos com base no histórico de navegação e compras dos clientes. A Alibaba implementou lojas inteligentes com reconhecimento facial e sistemas de checkout sem caixa, e o Walmart utiliza robôs autônomos equipados com câmeras de IA para monitorar e reabastecer o inventário. A Starbucks aplica IA para prever a demanda com base em dados históricos e condições externas, garantindo uma gestão eficiente do estoque.
É muito mais que automação! A I.A. no varejo tem feito uma verdadeira revolução, viabilizando também campanhas de marketing mais personalizadas, automação de checkout, melhoria da segurança e prevenção de perdas.
O caso Sephora
O aplicativo da Sephora é um exemplo de como a Inteligência Artificial (IA) e a Realidade Aumentada (AR) podem ser combinadas para transformar a experiência de compra on-line. Em suma, o aplicativo oferece aos clientes uma experiência realista de teste de maquiagem diretamente de seus dispositivos.
A integração de I.A. permite que o aplicativo analise as características individuais de cada usuário, como tom de pele e preferências pessoais. Com isso, o sistema pode criar simulações precisas de como diferentes produtos de maquiagem ficariam no rosto do(a) cliente. A AR projeta essas simulações em um ambiente digital, proporcionando essa experiência de imersão.
Além de simular a aplicação de maquiagem, o aplicativo também dá sugestões personalizadas com base nas preferências e no histórico de uso dos clientes, o que ajuda a guiar os usuários na escolha de produtos que melhor atendam às suas necessidades e gostos. Tudo isso gera muito mais interesse, satisfação e lealdade à Sephora. É a experiência da loja sendo vivenciada na palma da mão.
O caso Nike
O programa de personalização de tênis com Inteligência Artificial da Nike permite que os clientes desenhem seus próprios tênis, utilizando preferências pessoais como base para o design. A IA da Nike utiliza dados específicos dos clientes para criar designs personalizados que refletem as cores, padrões e estilos desejados por cada um deles.
Dessa forma, a Nike consegue oferecer uma experiência de design única e sob medida. O sistema sugere elementos de design que combinam com as preferências pessoais dos usuários, facilitando a criação de produtos que são verdadeiramente exclusivos. E essa sensação de exclusividade gera o “pertencimento”, fortalecendo o vínculo emocional criado entre os consumidores e a marca.
O caso Zara
A Zara utiliza IA para aprimorar sua gestão de produção e cadeia de suprimentos com base nas previsões de demanda geradas por seus algoritmos de IA, permitindo o ajuste de seus cronogramas de produção e a definição de quantidades de produtos de forma precisa.
A IA da Zara ajusta suas estratégias de inventário para atender melhor à demanda do mercado, reduzindo o risco de excesso de estoque e desperdício, e melhorando a eficiência na produção e distribuição. Assim, a marca consegue manter suas lojas abastecidas com produtos que têm alta demanda, otimizando sua operação e melhorando a experiência do cliente.
É um compilado de atributos: a IA na Zara otimiza a gestão de sua cadeia de suprimentos, contribui para uma melhor adequação às demandas do mercado, e melhora a experiência do consumidor final.
O caso Macy’s
A Macy’s, famosa rede de lojas de departamentos norte-americana, utiliza Inteligência Artificial para implementar uma estratégia de precificação dinâmica, ajustando os preços em tempo real com base na demanda, na concorrência e em outros fatores. Esse uso da IA permite que a Macy’s ajuste os preços de seus produtos de forma flexível e responsiva, maximizando a receita e garantindo que a loja permaneça competitiva no mercado.
Essa estratégia de precificação dinâmica da Macy’s, apoiada por IA, otimiza suas abordagens de precificação, aumenta as vendas e, consequentemente, a rentabilidade.
São operações diárias, cotidianas e necessárias que podem perfeitamente ser facilitadas com a inteligência artificial aplicada. Murta vê exatamente esse futuro onde a IA será cada vez mais integrada nas operações diárias das empresas, ajudando a automatizar e otimizar processos de forma inteligente, eficaz e genuína, melhorando a experiência de funcionários, gestores, CEOs e, sobretudo, clientes finais.
Não à toa, os casos de mercado apresentados (Sephora, Nike, Zara e Macy’s) exemplificam essa realidade na qual a I.A. não é mais a novidade. É o centro! Que venham os próximos passos. Nós estamos prontos!